A menina do olfacto delicado

sensibilidades e limitações de um nariz e outras verdades igualmente falsas

quinta-feira, julho 20, 2006

Vou cheirando o cacofónico discurso da vida

Fazer escolhas. Traço específico da minha pseudo-existência-organizada de folclore. Deambulo entre trabalhos gémeos, repetidos. Onde encontrar poesia.Reflexão.Tempo esgotando-se nos dias.Ficção.Mais dias.De quem nascido ou convivente num país se projecta sobre si próprio.Tenho fixações muito pessoais. Comprometem a representação fiel da realidade.O meu cérebro ficcionista arrasta os pés. Transmite à boca e à língua elementos semânticos deformados .Contam estórias nas quais a intenção do autor e o significado do texto deixam de coincidir.

Van Gogh dizia -"o girassol enquanto girassol só o é em determinado momento". Também tenho horas em que sou pessoa.Urgente.Estabilizar os termos.Congelando-os em denotações precisas.Já disse.O meu cérebro.Cultiva a noção de desvio em relação à realidade objectiva.É redundante, metafórico.Serve-se constantemente de características extra-linguisticas-psicadélicas.A minha cabeça não sabe ler o mundo.Não distingue a realidade da sua individualidade. Perante a não referencialidade.Deixa-se transportar para um plano de leitura irreal.

Elipses.Sumários.Desenvolvimentos. Pausas descritivas.O seu estilo. Não deve ser considerado inteiramente independente da delicadez e sensibilidade do meu nariz. O cérebro também cheira.O nariz também pensa.E cá vão ambos.Em dias terrestres.ondulantes.vermelhos.De calor.De guerra ou de combate.

À procura de um vocabulário da vida concreto e resistente.

Que se possa ler.E cheirar.